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Departamento de Farmacologia Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

História do Depto de Farmacologia

O Departamento de Farmacologia foi instalado em março de 1955 com a vinda à Ribeirão Preto do Prof. Gerhard Werner, de nacionalidade austríaca, a convite do Prof. Lucien Lison, que desempenhou papel importante como mediador na contratação de vários outros Professores nas Universidades Européias.

Nestes 47 anos de existência, a história do Departamento de Farmacologia apresentou três períodos particularmente distintos:

  • O da gestão do Prof. Gerhard Werner;
  • O da gestão do Prof. Maurício Oscar da Rocha e Silva e, finalmente;
  • O período mais recente, onde se sucederam na chefia os Profs. Drs. Alexandre Pinto Corrado, Adolfo Max Rothschild, Sérgio Henrique Ferreira, Fernando Morgan de Aguiar Corrêa e Wiliam Alves do Prado.

 

Prof. Dr. Gerhard Werner

O Prof. Werner impressionou a todos pela relativa facilidade em se expressar em português, fato que aliado à sua experiência universitária prévia em outro país do 3º mundo, a India, contribuiu para a sua adaptação ao nosso meio universitário, facilitando o seu desempenho como excelente didata. Portador de significativa bagagem científica (acima de 200 trabalhos), teve destacado desempenho também como orientador de Recursos Humanos na especialidade. As atividades didáticas eram complementadas pelos Drs. Armando O. Ramos e Alexandre P. Corrado, contratados como Instrutores pela universidade, respectivamente 12 e 16 meses após a instalação do Departamento. As atividades de pesquisa, neste período, incluíram desde a montagem de técnicas de fisiologia e farmacologia necessárias para a ministração do Curso Prático da especialidade, até a implementação de metodologias neurofarmacológicas para o desenvolvimento de linhas de investigação, que o Prof. Werner já desenvolvia antes da sua chegada em Ribeirão Preto. Estas linhas envolveram o estudo dos mecanismos responsáveis pela regulação da neurotransmissão a nível das junções neuromusculares somáticas, bem como os mecanismos responsáveis pelas alterações eletrofisiológicas induzidas por agentes convulsivantes em áreas restritas do sistema nervoso central, após a sua administração pelas vias venosa e/ou intracerebroventricular. Veremos adiante que a implementação desta última técnica, associada a registros eletroencefalográficos em animais despertos, possibilitou a realização dos estudos referentes à ações centrais da bradicinina, ocorridos já na gestão do Prof. Maurício Rocha e Silva.

Dentre os trabalhos publicados nesse primeiro período, ressaltam os que esclareceram o mecanismo da potenciação, causada pelos antibióticos aminoglicosídeos (AAG), ao bloqueio neuromuscular induzido pelos “curares” para fins cirúrgicos. A demonstração do íon cálcio como agente antagônico específico desses efeitos colaterais dos AAG veio definitivamente convalidar o perigo da eventual ocorrência de paradas respiratórias no pós-operatório imediato de pacientes tratados profilaticamente com tais antibióticos pela via peritoneal. Essa real contribuição do Departamento, que resultou do trabalho conjunto dos Drs. Alexandre Pinto Corrado e Armando Octávio Ramos, além do representante das Áreas Aplicadas, o Dr. Cláudio Tácito Escobar, do Departamento de Cirurgia desta Unidade, constituiu-se em um dos primeiros estudos integrados entre as áreas básicas e aplicadas desta Unidade, fato importante que, como veremos adiante, repetiu-se inúmeras vezes ao longo da história do Departamento.

Completavam o grupo: Odete Pizarro, que foi a primeira Secretária; Pedro Furtado, responsável pela limpeza do Departamento e um jovem de 16 anos, que quando chegamos, funcionava como Auxiliar Técnico do Prof. Werner. Tratava-se de Diléo Salviano dos Reis, que foi iniciado na carreira sob orientação do citado Professor, e que anos após, viria a se constituir no exemplo vivo e dinâmico dessa verdadeira arte de montar técnicas e metodologias científicas, visto ter sido o responsável pela iniciação da maioria dos técnicos que se sucederam no Departamento. Tempos após a nossa chegada, veio transferido da Microbiologia outro técnico, Hélgio L. Werneck, o qual em vista da sua afinidade pelo desenho técnico, foi já na gestão do Prof. Rocha e Silva, designado para montar uma Seção especializada em Documentação Científica, a primeira, segundo nos consta, criada na Unidade e que, por longo tempo, serviu também a outros Departamentos. O papel exercido por este Pessoal de Apoio Técnico-Administrativo sempre foi considerado de particular importância pelo Departamento, ao longo de toda a sua existência.

Vista aérea do Prédio Central da FMRP, onde localiza-se o
Depto. de Farmacologia. Ao fundo pode-se ver o prédio
do HC-Campus e suas dependências.

Com o Departamento fluindo dessa forma crescente em termos de pesquisa e ensino, o Prof. Werner, por motivos não inerentes à sua vontade, teve que deixar o Brasil em 1957.

Com a saída do Prof. Werner, o Departamento passou a ser chefiado pelo Prof. Rocha e Silva, o qual veio à Ribeirão Preto a convite do Prof. Zeferino Vaz, seu velho conhecido dos áureos tempos de Instituto Biológico, onde na década de 30, desenvolveram atividades de pesquisa sob a orientação do eminente Prof. Rocha Lima.

A vinda do Prof. Rocha e Silva a esta Faculdade foi motivo da mais ampla repercussão, não só pelas suas reconhecidas qualidades intelectuais de cientista emérito, como também pela posição de destaque por tratar-se de um dos maiores cientistas da América Latina e, inquestionavelmente, a maior expressão da farmacologia brasileira de todos os tempos. Com efeito, ficaram indelevelmente marcadas na história da farmacologia brasileira as difíceis etapas vencidas pelo Prof. Rocha e Silva, nas décadas de 40 e 50, para impor-se finalmente, a nível internacional, com a descoberta da bradicinina, hormônio dos tecidos em torno do qual já foram realizados inúmeros simpósios e congressos e foram publicados algumas dezenas de livros e centenas de trabalhos, e cuja importância fisiopatológica continua a ser tema controvertido e sempre atual e, portanto, a merecer o amplo interesse da comunidade científica. Porém, como acontece com todas as grandes descobertas científicas – principalmente se as mesmas nascem em países em desenvolvimento – também com a bradicinina houve um período de dúvidas e descrédito nos países mais desenvolvidos, situação entretanto em pouco tempo superada em vista da elevada objetividade do Prof. Rocha e Silva. Com efeito, além de conseguir publicar seu trabalho em periódico da mais alta expressão científica no meio fisiológico internacional – o “American Journal of Physiology” – projetou-se mundialmente apresentando-o em sucessivas Reuniões Científicas internacionais. Além disso, em pouco tempo aumentou significativamente sua produção científica nesse tema, com a ampliação do seu grupo ao qual, além dos colaboradores mais diretamente correlacionados com a descoberta da bradicinina (Drs. Silvia de Andrade, Beraldo e Rosenfeld) foram seguidamente aglutinados os Drs. Eline Prado, Carlos R. Diniz, Ulla Hamberg, o casal Olga e Sebastião Baeta-Henriques e os Profs. Ribeiro do Valle e Leal Prado que se constituíram, parafraseando trecho do discurso do Prof. W. T. Beraldo sobre a vida científica do Prof. Rocha e Silva (Ciência e Cultura 33: 448, 1981), no grupo de 1ª geração de cininologistas que posteriormente iria se ampliar, como veremos adiante, durante a sua gestão como Chefe do Departamento de Farmacologia da nossa Unidade.

Prof. Dr. Maurício Oscar da Rocha e Silva

Dado o renome do Prof. Rocha e Silva torna-se compreensível o período de intensa apreensão que passamos, desde a sua indicação para a Chefia do Departamento até a sua vinda à Ribeirão Preto. Entretanto, imediatamente após a sua chegada, tivemos desse Professor a primeira demonstração de confiança pois, lembrando-se do nosso primeiro contato por ocasião de uma nossa apresentação de trabalho (quando ainda éramos acadêmicos de Medicina), no decorrer de uma das Reuniões Científicas no Instituto Biológico, procurou-me para afirmar a sua disposição de manter a mim e ao colega A. Ramos como seus assistentes na nova fase do Departamento, fato que muito nos envaideceu. Este intercâmbio cordial proporcionou a nossa rápida familiarização no campo da farmacologia de peptídeos vasoativos e de suas implicações fisiopatológicas, com a realização e a publicação, em período reduzido de tempo, de vários trabalhos em periódicos de reconhecida rigidez editorial, destacando-se entre eles, os que se referem à “potenciação do efeito hipotensor da bradicinina por drogas simpatolíticas” e os “efeitos decorrentes da aplicação intracerebroventricular desse polipeptídeo”, temas que propiciaram o início da formação do grupo de 2ª geração de cininologistas, cujos demais integrantes serão citados adiante.

Por outro lado, sempre ligado ao estudo dos mecanismos responsáveis pela liberação de histamina, em meados do ano de 1959, o Prof. Rocha e Silva, dando início à sua profícua formação de Recursos Humanos, conseguiu a contratação do Prof. Ithamar Vugman, que havia se especializado nesse campo sob a segura orientação do Dr. Ivan Motta. Ao grupo, um ano após, associou-se o colega Dr. Adolfo Max Rothschild, recém-chegado do exterior, onde havia permanecido por um longo período, desenvolvendo técnicas e metodologias nesse campo, e que voltara a colaborar com o Prof. Rocha e Silva para dar continuidade aos seus trabalhos de pesquisa sobre histamina, realizados no período de 1951 a 1956 no Instituto Biológico. Importantes trabalhos foram publicados por este grupo, que conseguiu estabelecer o papel do metabolismo energético celular na liberação da histamina, com a publicação de vários trabalhos em periódicos de expressão internacional. Em 1965, o Dr. Ithamar Vugman transferiu-se para o Departamento de Morfologia desta Unidade, continuando a produzir trabalhos neste tema. A produção do Dr. Rothschild neste campo continuou intensa ao longo de toda a sua carreira científica, de forma a projetá-lo internacionalmente, ocupando em 1971, o honroso cargo de “Chairman” do “Histamine Club”. As suas atividades de pesquisa abrangeram também a área dos polipeptídeos biologicamente ativos, tendo demonstrado a importância do uso experimental de sulfato de celulose como depletor do precursor da bradicinina, bem como a importância da liberação deste polipeptídeo na mediação do edema pulmonar induzido pela adrenalina. A este último tema, associou-se posteriormente a Dra. Mercedes Perez Oliveira Antonio, que em 1967 passaria a ser docente do Departamento.

Com a saída do colega Armando O. Ramos, em dezembro de 1959, tivemos a árdua, porém grata e honrosa, oportunidade de compartilhar com o Prof. Rocha e Silva não só nos aspectos didáticos e administrativos do Departamento (substituindo-o inúmeras vezes na Chefia, por ocasião de suas freqüentes idas ao exterior) mas também em todo o seu intenso programa de formação de novos pesquisadores, atividade esta que a partir de 1959, associaram-se primeiramente o colega Adolfo M. Rothschild (cujo importante papel nesse sentido vem se prolongando até a presente data), e posteriormente, o Dr. Carlos Ribeiro Diniz, o qual após longo período de atividades no Departamento de Bioquímica desta Faculdade (1952-1963), voltou a colaborar com o Prof. Rocha e Silva, nas décadas de 60 e 70 (1963-1977), ocasião em que estabeleceu e desenvolveu, em colaboração com o colega Ivan F. de Carvalho, relevante estudo sobre a bioquímica e a farmacologia do precursor da bradicinina – o bradicininógeno – sugerindo o seu papel biológico e evidenciando as implicações fisiopatológicas.

Prof. Dr. Alexandre Pinto Corrado

Em torno dessa relevante linha de pesquisa, o Dr. Diniz reuniu extenso grupo de pesquisadores provindos do nosso e de outros Departamentos da Unidade, bem como do Departamento de Farmacologia da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto, que foi por nós criado e chefiado (1961-1962) em atenção a honroso convite feito pelo Prof. Francisco Degni, Diretor da citada Faculdade na época. Desses estudos, orientados e/ou supervisionados pelo Dr. Diniz, resultaram inúmeros trabalhos, bem como a elaboração de várias teses. Dentre estas, citaria a por nós apresentada ao Concurso de Livre-Docência e àquela apresentada pelo Prof. Raul Martinez ao Concurso de Cátedra no Departamento de Obstetrícia. A primeira, intitulada “Participação da bradicinina nos efeitos hemodinâmicos induzidos por enzimas proteolíticas”, foi citada por se constituir trabalho pioneiro referente aos diversificados aspectos da fisiopatologia da bradicinina e do bradicininógeno. A última, intitulada “Teor de bradicininógeno no plasma de mulheres no ciclo grávido puerperal”, foi assinalada pois repercutiu amplamente na época, não só na nossa Unidade, como na Universidade, o fato de um chefe de Departamento das áreas clínicas voltar ao Laboratório de Ciências Básicas e elaborar uma tese eminentemente experimental. Este fato repetiu-se por ocasião da Tese de Livre-Docência do Dr. P. L. Castelfranchi (do Departamento de Cirurgia), referente ao papel da bradicinina na evolução da pancreatite aguda experimental, na qual o autor sob nossa supervisão, realizou toda a parte experimental.

Outra relevante linha de pesquisa do Dr. Diniz envolveu o isolamento e caracterização farmacológica de neurotoxinas de peçonhas de aranhas e escorpiões, destacando-se os trabalhos que esclareceram o mecanismo das ações pré-sinápticas das Tityustoxina feitos em colaboração conosco e Abílio Antonio. Frente a essa crescente atividade de pesquisa, foram contratados para o Biotério: Dorival Oliveira, Sidney Orlandin e José T. Aguilar, e para serviços técnicos, Rubens de Mello e Luis Carlos Neves. Estes últimos, embora de escolaridade secundária, também contribuíram para a iniciação dos técnicos que os seguiram, os quais na sua quase totalidade tem nível superior, aspecto que será comentado adiante.

A partir de 1961, tivemos a oportunidade de acompanhar de perto a evolução científica do significativo número de pesquisadores na especialidade, hoje todos eles projetados internacionalmente, fato que demonstra a implantação pelo Prof. Rocha e Silva de uma verdadeira Escola de Farmacologia. Com efeito, em ordem cronológica, sucederam-se no Departamento os colegas Drs.: Abílio Antonio, Sérgio Henrique Ferreira, Sérgio S. Cardoso, João Garcia-Leme, Antonio Carlos Martins de Camargo, Frederico Guilherme Graeff, Mercedes Perez Oliveira Antonio, Glaci R. Silva, Lewis Joel Greene e Francisco Riccioppo Neto. Merece ser assinalado que com exceção dos colegas Sérgio H. Ferreira, S. S. Cardoso, Glaci R. Silva, Lewis J. Greene e Francisco R. Neto (provindos de outras Universidades nacionais ou estrangeiras), todos os demais docentes foram nossos alunos, tendo iniciado suas atividades junto ao Departamento, desde os bancos escolares, influenciados pelo carisma, pelo entusiasmo e pelo elevado espírito científico imprimidos pelo Prof. Rocha e Silva no curso de Graduação, transformando-o numa seqüência de estudos mecanísticos de ação de drogas, ao contrário do costumeiro, desestimulante e tedioso método de ensino da farmacologia, vigente na maioria das Escolas Médicas do País, que prioriza a memorização de nomes e de efeitos de medicamentos.

Com todos esses docentes, cuja maioria compõe o grupo de 2ª geração de cininologistas, o Prof. Rocha e Silva teve a oportunidade de publicar trabalhos científicos do mais alto nível, ampliando de forma significativa os conhecimentos sobre a farmacologia e a fisiopatologia da bradicinina, chegando a sugerir papéis fisiológicos, e até mesmo, a existência de um sistema bradicininérgico. Destacam-se, dentre as inúmeras linhas de pesquisa abordadas, as que:

  • Evidenciaram um potente efeito dilatador coronariano do polipeptídeo (Abílio Antonio);
  • Descreveram os primeiros agentes antagônicos da bradicinina (João Garcia-Leme);
  • Descobriram e caracterizaram as primeiras cininases do tecido nervoso (Antonio Carlos Martins de Camargo);
  • Caracterizaram os efeitos comportamentais, autonômicos e analgésicos resultantes de aplicação intracerebroventricular de bradicinina (Frederico Guilherme Graeff e Alexandre Pinto Corrado);
  • Descreveram o efeito catatônico induzido pelo polipeptídeo (Glaci R. Silva);
  • Evidenciaram fenômenos reflexos induzidos pela bradicinina (Francisco Riccioppo Neto);
  • Evidenciaram a presença de fatores potencializadores da bradicinina no veneno da Bothrops jararaca (Sérgio Henrique Ferreira).

 

Prof. Dr. Sérgio Henrique Ferreira

Merece ser destacado, que contribuíram enormemente para a rápida evolução desses estudos, os trabalhos referentes à potenciação dos efeitos da bradicinina, de importância fundamental, pois vieram modificar radicalmente o estudo desse agente endógeno em termos de melhor evidenciação de seus efeitos biológicos, reforçando a indicação de seus prováveis papéis fisiológicos, trabalhos realizados pelo colega Sérgio H. Ferreira, inicialmente em colaboração conosco e com o Prof. Rocha e Silva, e posteriormente por ele ampliados até a obtenção de um peptídeo, extraído do veneno da Bothrops jararaca, que possibilitou o desenvolvimento de novos agentes anti-hipertensivos, fato que lhe proporcionou a outorga de prêmio pela “American Heath Association”, em 1983. A purificação e seqüenciamento desse peptídeo foram realizados em colaboração com o colega Lewis J. Greene, especialista nesse campo. Com o aumento do Corpo Docente, outros técnicos foram contratados, todos de nível universitário (Hidelberto Caldo, José Carlos de Aguiar, Osmar Vettore, Antonio Castania e Márcia S. Mello) e a Secretaria ampliada com a inclusão de Célia C. Santos.

Seguindo a mesma orientação preconizada pelo Prof. Rocha e Silva, no período de 1973-1978, durante o qual tivemos a honra de chefiar o Departamento, ampliamos o Corpo Docente contratando nova leva de ex-alunos, nossos atuais colegas: Antonio Roberto Martins, Fernando Morgan de Aguiar Corrêa, Wiliam Alves do Prado e Maria Cristina de Oliveira Salgado. A particularidade dos três últimos é a de se constituírem nos primeiros frutos do Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Médicas desta Faculdade (que este Departamento sempre apoiou e que teve no Prof. Rothschild um de seus Coordenadores em 1972), cuja excelente formação básica foi complementada pelos Cursos de Pós-Graduação desta Faculdade, criados e organizados pelo Prof. Rocha e Silva, em cuja comissão ele participou ativamente como Presidente, desde a sua implantação (1970) até o ano de 1978, tornando-o o Centro mais importante de ensino de Pós-Graduação na área médica do País.

Da atividade desses novos docentes nasceu a 3ª geração de cininologistas, cujas principais linhas de pesquisa propiciaram as seguintes contribuições:

  • As primeiras evidências bioquímicas da presença de cininas no SNC (Fernando M. A. Corrêa);
  • A demonstração de atividade cininásica e/ou inibidora da enzima conversora do SNC de animais e humanos e sua correlação com o desenvolvimento neural (Antonio R. Martins);
  • Importância do metabolismo de cininas na hipertensão renal experimental e implicações da geração tecidual aumentada de angiotensina II na parede vascular de ratos hipertensos (Maria C. O. Salgado).

Novas contratações de Técnicos, a maioria de nível universitário (Idália Inês Bonani de Aguiar, Paulo Roberto. Castania, Afonso Paulo Padovan e Ivanilda Aparecida Castrechini Fortunato) tornaram-se necessárias com a vinda desses novos docentes.

Além das diretamente relacionadas com as cininas, outras importantes linhas de pesquisa foram desenvolvidas no Departamento, que propiciaram:

  • A Detecção e participação das prostaglandinas, do SNSimpático e de citoninas na dor inflamatória. Detecção do mecanismo de hiperalgesia (Sérgio H. Ferreira);
  • Papel da insulina e dos glicocorticóides na regulação da resposta inflamatória e na interação leucócito x endotélio. Mediação química na resposta inflamatória induzida pela estimulação de fibras nociceptivas. Caracterização do Fator pró-inflamatório de linfócitos (João Garcia-Leme);
  • Descoberta e caracterização das endo-oligopeptidases A e B do tecido nervoso (Antonio C. M. Camargo);
  • Descoberta do efeito anti-conflito de antagonistas da serotonina. Evidenciação da modulação serotoninérgica e por aminoácidos excitatórios que comandam comportamentos depressivos e elaboram a aversão na Matéria Cinzenta Periaquedutal (MCP). Proposta teórica da participação da MCP na desordem do pânico e no mecanismo de ação dos medicamentos anti-pânico (Frederico G. Graeff);
  • Demonstração do caráter competitivo do antagonismo cálcio-antibióticos-aminoglicosídeos na transmissão neuromuscular. Primeira referência na literatura da existência de mecanismo pré-sináptico de regulação de liberação de acetilcolina na junção neuromuscular (Wiliam A. Prado).

Lateral do Prédio Central onde localiza-se o Depto.

Toda essa atividade de pesquisa proporcionou ao Prof. Rocha e Silva a publicação de extensa série de trabalhos – acima de 300 – vários capítulos de livros, sendo inúmeras vezes Editor de livros referentes a Simpósios Internacionais e autor de 7 livros, incluindo-se os didáticos, científicos e os literários, além da outorga de Prêmios do mais elevado nível, de âmbito nacional – Moinho Santista, 1965 e Conselho Nacional de Pesquisas, 1982 e internacional – Bernardo Houssay, 1970. Na evolução de todas estas atividades, desempenhou papel relevante a Dra. Hanna Rothschild, companheira e colaboradora do Prof. Rocha e Silva no período mais fecundo de suas realizações.

Em setembro de 1980, por ocasião da sua aposentadoria compulsória, que o Mestre ironicamente chamava de “expulsória”, pois aos 70 anos sentia-se suficientemente lúcido para o desencargo das suas diversificadas atividades, deixou a chefia, porém não o Departamento, em vista do Corpo Docente sentir-se honrado em continuar a contar com a sua presença, situação que se prolongou até o dia do seu passamento, ocorrido em 19/12/83.

Com a aposentadoria do Prof. Rocha e Silva, ficou sob a responsabilidade dos seus discípulos manter e, se possível, ampliar esse significativo legado.

Ao se passarem 14 anos, no decorrer dos quais sucederam-se na chefia os Profs. Alexandre P. Corrado (1980-1984, 1992-1994), Adolfo M. Rothschild (1984-1988) e Sérgio H. Ferreira (1988-1992), tal possibilidade tornou-se realidade, pois:

  • Foram contratados novos docentes, procurando substituir os que saíram e ampliar o Corpo Docente;
  • Foi reavaliado o espaço físico de cada docente, procurando estabelecer áreas equivalentes;
  • Foram contratados novos Técnicos (Lúcia H. Faccioli, Eleni Luiza T. Gomes, Tadeu Franco Vieira, Orlando Mesquita Jr., Ieda Regina dos Santos Schivo, Eliana Beatriz C. Barros, Berenice Borges Lorenzetti, Fabíola Leslie A. C. Mestriner, Neomésia Issajuara S. Freire, Ana Kátia dos Santos, Cláudia Castania, Marcos Antonio de Carvalho), quase todos universitários, alguns dos quais interagindo diretamente com os componentes do Corpo Docente na elaboração dos protocolos experimentais e na análise crítica dos resultados, situação que explica a sua inclusão na lista dos autores de trabalhos. Esta nova concepção de Pessoal de Apoio Técnico possibilitou a elaboração do Curso de Técnicas Farmacológicas, sob os auspícios da USP, que foi por eles ministrado;
  • Ampliou-se e reformulou-se a Secretaria com as contratações: Sônia Maria Stefanelli, Fátima Helena Ferreira Petean e Isabel Cristina G. Marangoni;
  • Manteve-se o nível e a produção científica, com um valor médio anual de 23 publicações em periódicos internacionais.

No que se refere à Pós-Graduação, manteve-se a intensa atividade formadora de Recursos Humanos pois, de 67 Dissertações de Mestrado e 24 Teses de Doutorado, registradas em 1980, passamos para, respectivamente, 110 e 62, com uma média anual de produção da área de 80 trabalhos. Como indicador do sucesso da nossa Área, a seguir listamos, a guisa de exemplo, o destino dos Doutores:

  • Dos 62, 56 são Profs. Universitários;
  • Acima de 200 trabalhos foram por eles publicados em periódicos internacionais;
  • Acima de 200 alunos estão sendo por eles orientados.

Neste período, com as contratações dos Drs. Jomar M. Cunha, Gustavo Ballejo Olivera, Francisco Silveira Guimarães e Fernando de Queiróz Cunha, novas linhas de pesquisa foram estabelecidas, que proporcionaram as seguintes contribuições:

  • Implicações fisiopatológicas das respostas nociceptivas induzidas pela bradicinina (Alexandre. P. Corrado);
  • Tumefação granular reversível dos mastócitos, após stress e atividade alimentar (Adolfo M. Rothschild);
  • Detecção do componente periférico na analgesia pela morfina. Mecanismo de ação da dipirona. Participação do óxido nítrico na analgesia (Sérgio H. Ferreira);
  • Demonstração da participação de mecanismos colinérgicos no SNC no controle de respostas emotivo/motivacionais da dor (Wiliam A. Prado);
  • Demonstração da regulação e plasticidade diferencial de sub-tipos de receptores muscarínicos durante o envelhecimento. Regulação dos receptores do GABA do tipo B por andrógenos. Participação da via L-arginina-NO na inibição NANC do tubo digestivo. Inibição seletiva do Citocromo P-450 pela vasopressina (Gustavo Ballejo);
  • Caracterização do efeito ansiolítico do canabidiol. Participação da neuro-transmissão glutamatérgica na substância cinzenta periaquedutal dorsal na ansiedade (Francisco S. Guimarães);
  • Descoberta de duas novas interleucinas liberadas de macrófagos, uma inibidora e outra indutora da migração de neurotrófilos (Fernando Q. Cunha).

No que se refere ao Ensino de Graduação, procurou-se dar uma nova dimensão aos Cursos oferecidos à Medicina e à Enfermagem, principalmente em termos de introdução de novas aulas práticas e de ampliação dos seminários, com resultados animadores, pois aumentou a motivação dos alunos pela farmacologia, fato comprovado pelos inúmeros pedidos de estágios de Iniciação Científica.

No período compreendido entre 1992 até meados de 2001, sucederam-se na Chefia do Departamento o Prof. Alexandre Pinto Corrado pela terceira vez (1992-1994), seguido pelos Profs. Drs. Fernando Morgan de Aguiar Corrêa (1994-1996 e novamente em 2000-2002) e Wiliam Alves do Prado (1996-2000, sendo dois mandatos consecutivos), ambos representantes do grupo jovem, com formação integral em nossa faculdade, desde os bancos escolares até a obtenção do grau de Professor Titular. No decorrer deste período, novos docentes foram integrados ao Departamento, representados pelos colegas Hélio Zangrossi Júnior e Norberto Cysne Coimbra, que vieram contribuir para o desenvolvimento científico, em termos de instalação de novas metodologias, respectivamente nos campos da psico e neurofarmacologia, proporcionando a criação de novas linhas de pesquisa, destacando-se as que:

  • Analisam os substratos neurais envolvidos na gênese/expressão de diferentes subtipos de ansiedade (Hélio Zangrossi Jr.);
  • Analisam o desenvolvimento de modelos animais de ansiedade (Hélio Zangrossi Jr.);
  • Avaliam o estudo dos neurotransmissores, neuromoduladores e neurormônios envolvidos em processos antinociceptivos e aversivos eliciados em estruturas encefálicas responsáveis pela elaboração do comportamento de defesa (Norberto C. Coimbra);
  • Avaliam o estudo da citoarquitetura e da anatomia conectiva e funcional de estruturas neurais relacionadas à percepção e controle da dor (Norberto C. Coimbra).

Pelo menos dois outros docentes deverão ser futuramente contratados afim de ocuparem vagas liberadas pelos colegas que se transferiram para outros centros universitários (João Garcia-Leme, Frederico G. Graeff, Antonio C. M. Camargo) ou que se aposentaram (Abílio Antonio, Mercedes P. O. Antonio, Adolfo M. Rothschild, Francisco Riccioppo Neto e Alexandre Pinto Corrado).

Diversificou-se o trabalho da secretaria, com a introdução da informática, cujo processo foi intensificado após a contratação de José Waldik Ramon, funcionário especializado no tema, que ocupou a vaga liberada pela secretária Isabel C. M. Marangoni, que transferiu-se para outro setor desta faculdade. Além disto, foram contratados novos funcionários de apoio técnico, representados pela Auxiliar Técnica Diva Amábile Montanha de Souza e pelos Técnicos de Laboratório Sérgio Roberto Rosa, Giuliana Bertozi Francisco e Devanir Cândido de Oliveira.

Em termos de Pós-Graduação, além de ampliar ainda mais a atividade formadora de novos recursos humanos na especialidade, pois até meados de 2001 já foram defendidas 163 Dissertações de Mestrado e 95 Teses de Doutorado. Verificou-se também um expressivo aumento do nível dessa atividade, com a honrosa outorga pela CAPES à Área de Concentração Farmacologia dos Cursos de Pós-Graduação deste Campus, da menção de melhor curso nessa área em todo o país, havendo sido o único a receber a nota máxima (7.0), fato que explica a manutenção do nível de produção científica, com um valor médio anual de 37 publicações em periódicos de reconhecida expressão internacional.

Ao finalizar, apresentamos, resumidamente, dados de natureza universitária e científica, dos componentes do Corpo Docente, que projetaram o Departamento e a Unidade:

 Prêmios:
  • Alexandre Pinto Corrado (6 nacionais);
  • Carlos Ribeiro Diniz (1 nacional);
  • Fernando de Queiróz Cunha (5 nacionais);
  • Fernando Morgan de Aguiar Corrêa (1 nacional);
  • Francisco Silveira Guimarães (2 nacionais e 1 internacional);
  • Frederico Guilherme Graeff (1 nacional);
  • Maurício Oscar da Rocha e Silva (2 nacionais e 1 internacional);
  • Sérgio Henrique Ferreira (6 internacionais);
  • Wiliam Alves do Prado (2 internacionais e 1 nacional)
 Assessorias Nacionais e Internacionais:
  • Alexandre Pinto Corrado (Perito da O.M.S. e Consultor do INCQS);
  • Fernando Morgan de Aguiar Corrêa (Editorial Board of “Cellular and Molecular Neurobiology”);
  • Maria Cristina de Oliveira Salgado (Assessora do CNPq, CAPES, FAPESP e FINEP, Membro do Comitê Científico da “American Society of Hypertension”, Membro do Corpo Editorial dos periódicos “Hypertension”, “Journal of Hypertension”, “European Journal of Pharmacology” e “Brazilian Journal”, Membro do Conselho da SBFTE);
  • Norberto Cysne Coimbra (Editorial Board of “Brain and Mind Magazine”, Assessor do PIBIC – CNPq, do Sicusp e das Revistas “Brain Research” e “Pain”);
  • Sérgio Henrique Ferreira (Assessor das seguintes revistas internacionais: “European Journal of Pharmacology”, “Mediators of Inflammation”, “British Journal of Pharmacology”, “Inflammation Research”, “Journal of Rheumatology”, “Journal of Neuroscience”, “Life Sciences” e “European Journal of Pain”).
 Cursos de Pós-Graduação Ministrados no Exterior:
  • Alexandre Pinto Corrado (Colômbia);
  • Sérgio Henrique Ferreira (Cuba, México e Itália).
 Presidentes e Vice-Presidentes de Sociedades:
  • Adolfo Max Rothschild (SBRP);
  • Alexandre Pinto Corrado (ALAF, SBFTE);
  • Carlos Ribeiro Diniz (IST);
  • Fernando de Queiróz Cunha (SBIn);
  • Fernando Morgan de Aguiar Corrêa (SBNec);
  • Frederico Guilherme Graeff (SBPb);
  • Maria Cristina de Oliveira Salgado (SBFTE);
  • Maurício Rocha e Silva (IUPHAR, ALAF, SBFTE);
  • Sérgio Henrique Ferreira (SBFTE, FESBE, SBPC, SBED, SBIn).
Cargos Diretivos:
  • Antonio Carlos Martins de Camargo (Vice-Diretor ICB/USP);
  • Frederico Guilherme Graeff (Vice-Diretor FFCLRP-USP);
  • Sérgio Henrique Ferreira (Diretor e Vice-Diretor do INCQS).
 Redação(R) e Tradução(T) de Livros(L) e Capítulos de Livros(CL):
  • Abílio Antonio (1RCL);
  • Adolfo Max Rothschild (1TL, 2RCL);
  • Alexandre Pinto Corrado (1RCL);
  • Fernando de Queiróz Cunha (10RCL);
  • Fernando Morgan de Aguiar Corrêa (6RCL);
  • Francisco Silveira Guimarães (1RL, 14RCL);
  • Frederico Guilherme Graeff (1RL);
  • Gustavo Ballejo Olivera (7RCL);
  • Itamar Vugman (2RL);
  • João Garcia-Leme (2RL);
  • Maria Cristina de Oliveira Salgado (1TCL, 2RCL);
  • Maurício Rocha e Silva (7RL);
  • Norberto Cysne Coimbra (4RCL);
  • Sérgio Henrique Ferreira (41RCL, 3RL);
  • Wiliam Alves do Prado (3RCL, 1TCL);
 Criação e/ou Instalação de Departamentos de Farmacologia:
  • Abílio Antonio (FMUFU);
  • Alexandre Pinto Corrado (FFORP, FMV-UFMT);
  • Francisco Riccioppo Neto (FRMSJRP);
  • Wiliam Alves do Prado (FAMECA).
Produção Científica:
  • As contribuições relevantes citadas no texto, proporcionaram acima de 500 publicações.

Com base no exposto, cremos ter evidenciado que as amplas e diversificadas atividades do Departamento, abrangendo em proporções equivalentes de ensino, pesquisa e extensão à comunidade, desempenharam papel relevante na história dos 50 anos desta Faculdade.